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Lançamento Livro Medicina e Espiritualidade

Religião, espiritualidade e religiosidade. Significado e diferenças conceituais.

A história mostra que a importância da religião na vida das pessoas é um fato incontestável. A ciência também mostra que a forma como é cultuada pode desencadear impactos benéficos ou maléficos tanto para saúde física como para mental, devendo o estudo e melhor conhecimento desses fatores ser uma necessidade na formação médica ou de qualquer profissional da área da saúde. Para tanto é fundamental o conhecimento do significado ou sentido das palavras Religião, Espiritualidade e Religiosidade.

Porém entrar nesse assunto é quase como entrar em um labirinto, pois definições e conceitos neste campo podem diferir de acordo com as culturas ou concepção individual das pessoas que professam uma fé ou buscam um mecanismo de espiritualização.

Além das perspectivas teológica, sociológica e psicológica que o tema impõe; temos a sobreposição de ideias entre religiosidade e espiritualidade, por vezes com limites mal definidos entre ambas. E o envolvimento de aspectos internos e externos, gerando os contrapontos entre pensamentos versos comportamentos religiosos e espirituais.

Assim sendo, tentaremos abranger conceitos e significados junto a literatura referente ao assunto, que possam proporcionar caminhos que facilitem esse entendimento.

Religião.

A etimologia da palavra religião tem origem no latim, havendo controvérsias entre pelo menos três palavras:

  1.  “Relegere”, onde o prefixo “Re” está relacionado a reforçar uma ideia e “Legere” ao verbo Ler. O sentido dessa palavra está associado ao ato constante de ler, reler e interpretar textos sagrados ou bíblicos.
  2. “Religare”, onde o “Re” está se referindo ao sentido de “outra vez ou de novo” e “Ligare” ao sentido de “ligar – unir – vincular”. No seu contexto dá origem ao significado: “atender ao chamado”.
  3. “Religio”, cujo contexto tem o significado de “respeito pelo sagrado”, ou também, “louvor e reverencia aos deuses”.

Em todos os significados a Religião seria um mecanismo de busca ou culto por algo sagrado ou superior. Na intenção de conduzir por esta procura, as religiões, na sua maioria, desenvolveram uma estrutura organizacional, geralmente hierárquica, formal e institucional. Nesse processo é oferecido ou devoto um sistema de princípios, rituais, crenças, dogmas e leituras especificas, a serem seguidos e cultuados como forma de atingir um objetivo comum de louvar, reverenciar ou tentar unir-se ao que está em condição muito superior ou Divina. Assim passamos a ter a religião como uma ordem social e cultural, onde cada uma desenvolve seus códigos, crenças e símbolos próprios, o que faz com que tenham suas particularidades bem definidas, as quais os adeptos devem seguir de forma individual ou coletiva. Neste tipo de organização a oferta de serviços, como: matrimonial, iniciações, cursos, sermões, serviço funerário e outros, são práticas comuns, podendo assumir diferentes formas conforme as diferentes culturas.

A religião adota um aspecto mais formal e uniformizado, onde o individuo sujeita-se a autoridade que o sistema representa, aceitando suas tradições e fundamentos, onde na maioria aplica-se um código moral de condutas que deve ser seguido por todos. Desta forma a religião permite um mecanismo de medição da religiosidade do indivíduo, e o quanto isso o afeta em vários aspectos: familiar, social, pessoal, físico, metal e outros.

Espiritualidade.

Espiritualidade sendo um termo que vem se popularizando ao logo do tempo, gerou certa dificuldade para uma definição. Além de ser um termo encontrado em muitas culturas e sociedades, o que naturalmente torna-o complexo e multidimensional.  A espiritualidade arremete a uma característica mais individual e subjetiva, não dogmática ou organizacional. Desta forma é uma busca ao sagrado não sistemática, permitindo maior liberdade ao indivíduo na sua caminhada espiritual, prescindindo de uma autoridade representativa. Pode estar associada a uma religião, mas também se estendendo a indivíduos não religiosos.

Em seu contexto está mais associada as questões comportamentais e filosóficas, com importante influência de experiências vivenciais do ser, levando a questionamentos como: propósito de vida ou busca para seu significado, ou ainda, os valores pelos quais a pessoa se pauta.

A espiritualidade pela sua forte conexão com esperança, fé, paz interior e amor pela vida, nas suas diversas interpretações, pode se desenvolver por um estado espiritual interno, com ou sem a crença espiritual numa determinada religião.

O interessante no termo espiritualidade é a possibilidade da sua relação com a natureza, a arte ou música, como meios de conexão espiritual.

Ou seja, suas definições podem variar, mas sempre dentro de um princípio de busca da paz interior, admiração e reverencia, além de associada a algo bom, que causa conforto, com ou sem a necessidade de uma religião.

Em resumo estas colocações entre religião e espiritualidade mostram meios de busca muito particulares, por um lado temos um domínio mais restrito e institucional, com características de padrão dogmático.  Pelo outro lado temos um domínio mais amplo, individual e espiritual, com uma abertura maior às questões místicas e não dogmáticas, dando mais liberdade na busca de cada um.  Porém quando bem entendidas e corretamente aplicadas, podem trazer efeitos semelhantes, como bem-estar, melhor enfrentamento de adversidades, melhora na qualidade de vida, sentimentos de perdão e gratidão, os quais a ciência mostra serem benéficos ao corpo e a mente.

Religiosidade.

Por estar associada tanto a religião como a espiritualidade, a definição de religiosidade torna-se ainda mais difícil.

Podemos considerar religiosidade como o termo que indica o quanto um indivíduo acredita, segue e pratica uma religião, ou o quanto suas crenças influenciam sua vida ou a forma como convive em sua sociedade, no inter-relacionamento com outras pessoas. Neste sentido a religiosidade pode ser a relação de comprometimento do indivíduo nos meios pelos quais busca sua transcendência ao que considera sagrado.

 Desta forma a religiosidade pode ter um caráter intrínseco, relacionada a busca por valores internos ou sentido para a vida de forma independente, estando mais próxima das definições de espiritualidade. Ou um caráter extrínseco quando o indivíduo busca se espiritualizar por mecanismos externos, como os oferecidos pelas religiões. Neste caso a religiosidade é a reunião das virtudes ou preceitos éticos incorporados a partir de uma proposta institucionalizada e organizacional.

Concluindo.

De toda forma, palavras não expressam integralmente um sentido para o que acreditamos, ou que nos completa na busca de equilíbrio espiritual. O importante é termos um meio ou caminho que nos auxilie no enfrentamento das dificuldades que a vida impõe das mais variadas formas. Acreditar em algo superior nos inspira e impulsiona a uma melhora holística, global: mente, corpo e espírito. Podendo ao longo do tempo, pela fé e esperança, seja pelos mecanismos intrínsecos ou extrínsecos, levar-nos a proposta maior:  alcançar a paz e a felicidade tão almejada.