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Lançamento Livro Medicina e Espiritualidade

ESPIRITUALIDADE PODE AMENIZAR A DOR CRÔNICA?

Podemos considerar a dor como uma experiência sensitiva e emocional, de característica desagradável, sendo única, particular e intransferível. Ou seja, não temos como dividir o problema.

Quando levamos para dores crônicas fica ainda pior; pois são dores com duração superior a 3 meses e geralmente associadas a doenças oncológicas, hematológicas, reumatológicas, neurológicas e ortopédicas, que pela própria angústia que essas doenças causam agravam as questões emocionais que por sua vez aumentam a sensação da dor.

Algumas pesquisas estimam que uma em cada quatro pessoas, na população global, tem dor crônica. Isso nos mostra a gravidade do problema a nível mundial.

Ainda junto a dor crônica podemos ter fatores que intensificam sua gravidade, como: problemas de saúde, problemas com emprego ou trabalho, problemas financeiros, problemas com relacionamentos e familiares, intolerância a medicações. Todos esses fatores colocarão o indivíduo em um ciclo, começando por aumentar os níveis de ansiedade, o que pode levar a problemas de sono, aumento do estresse, culminando na sensação de piora da dor. Esses aspectos mostram como dor crônica tem importante relação com as nossas emoções.

Quando falamos em dor crônica estamos nos referindo a um conjunto de fatores com repercussão sensitiva, emocional e cognitiva; atingindo não apenas o físico, mas também o psíquico e o social.

Toda sensação de dor tem uma representação nas áreas cerebrais, fazendo um registro da experiência, comparação com outros fatores, gerando uma memória do processo. Além de ter uma representação no chamado córtex emocional ou centro emocional do córtex cerebral, principalmente na região Límbica, tornando todo esse conjunto de fatores em estresse crônico.

Desta forma podemos considerar três dimensões para dor:

  1. Dimensão sensório discriminativa: onde há o registro das informações da dor (pontadas, com formigamento, aguda etc.) e sua localização.
  2. Dimensão Cognitiva avaliativa: onde ocorre a análise e avaliação do processo e suas repercussões no dia a dia.
  3. Dimensão Afetiva emocional: onde frente ao fato podemos ter angústia, irritabilidade, sensações de insuportável e outras. Nesta dimensão é que podemos observar a importância da Fé, esperança e religiosidade/espiritualidade.

Para relacionarmos dor crônica e espiritualidade temos que abordar com mais detalhes e profundidade a dimensão afetiva emocional.

Sabemos que dor crônica gera muita angústia a qual irá desencadear várias reações emocionais, aumentando os níveis de estresse. Associado a angústia geralmente vem a tristeza, medo, isolamento social, pânico, podendo chegar a ansiedade e até depressão.

Estes estados emocionais não apenas agravam a dor crônica como levam a um estado de estresse crônico. Esse estresse contínuo em nossa vida diária irá repercutir na atividade neuroquímica, onde o eixo hipotálamo hipofisário secretara substâncias adrenocorticotróficas, que estimularão e glândula suprarrenal, aumentam na circulação corporal cortisol e adrenalina.

Essas substâncias mantendo-se sempre elevadas pelo estado de estresse crônico trarão consequências orgânicas com distúrbios cardiovasculares e disfunções do nosso sistema imunológico, agravando todo processo no qual o paciente se encontra.

Também são relatados nesta situação de estresse crônico o aumento da Interleucina 6, levando a alterações no processo de envelhecimento das células. Além da elevação circulatória das Citoquinas, piorando os processos inflamatório geralmente presentes na dor crônica.

Desta forma podemos concluir que dor crônica associado ao estresse crônico irá agravar ainda mais a situação do paciente.

Frente a todos esses fatos como espiritualidade/religiosidade pode auxiliar?

A ciência vem demonstrando nas últimas décadas que indivíduos que frequentam rotineiramente uma religião ou comunidade religiosa, assim como os que não tem uma religião formal, mas buscam melhorar seus valores através da espiritualidade; tem melhor qualidade de vida, mesmo frente a adversidades como adoecimentos, problemas financeiros ou familiares.

Através de exames de imagem e dosagem de substância pelo sangue ou saliva os pesquisadores estão considerando um circuito neuro funcional ligado as questões espirituais. Observam que indivíduos os quais buscam o equilíbrio espiritual através ou não de uma religião, tem menos distúrbios psíquicos e melhora de estados ansiosos.

Através dessas análises foi possível constatar que prece, meditação, perdão e gratidão, valores associados a espiritualidade, equilibram os níveis de substâncias estressoras e liberam neurotransmissores e hormônios que causam bem-estar. Principalmente pelo aumento na produção da Ocitocina, Serotonina, Melatonina e Dopamina. Essas substâncias melhoram o funcionamento orgânico e atividade imunológica; causam relaxamento e diminuição de tensões musculares, melhoram comportamento social e motivação para atividades do dia. Fatores que terão importante impacto no alívio de dores crônicas, ou no enfrentamento da mesma.

Acho que chegamos em um ponto de grande conhecimento sobre doenças e protocolos de pesquisa e tratamento, mas ainda não conseguimos analisar com mais profundidade o doente, considerando todas as suas dimensões: físico, mental, social e espiritual.

A ciência está nos direcionando para a importância da espiritualidade/religiosidade na melhoria da qualidade de vida e consequentemente nossa saúde física e mental.

Creio que as próximas décadas irão surpreender com as descobertas de como fatores espirituais interferem de forma global com a nossa saúde.